Thursday, December 14, 2006

FORTALEZA DOS REIS MAGOS













“A Fortaleza altiva, agarrada às raizes.

Nem parece sentir as fundas cicatrizes,
Dos golpes com que o mar o seu corpo tortura.
Evocando o passado, avistam as sentinelas.
No cruzeiro do sul a cruz das caravelas
E as flechas de Poti rasgando a noite escura’.

Palmira Wanderley


Frei Santa Tereza, 1643 (Domínio Holandês)
"Esse forte é o melhor que existe em toda a costa do Brasil, pois é muito sólido e belo."
Adriaen Verdonck



Ilustração: Toni Lucena - Arte@Metro
"Da cidade do Rio Grande [Natal] ao forte chamado os Três Reis Magos há apenas a distância duma pequena meia milha [c. 2 quilômetros], e esse forte é o melhor que existe em toda a costa do Brasil, pois é muito sólido e belo e está armado com 11 canhões de bronze, todos meios-canhões, muitas colubrinas e ainda 12 ou 13 canhões de ferro, estes porém imprestáveis; na entrada do mesmo forte há também 2 peças e daí chega-se ao paiol da pólvora; as muralhas podem ter de 9 a 10 palmos de espessura e são dobradas, tendo o intervalo cheio de barro; ordináriamente há poucos víveres no forte, porque entre esses portugueses não reina muita ordem; a guarnição consta habitualmente de 50 a 60 soldados pagos e com a maré cheia o forte fica todo cercado d'água, de modo que ninguém dele pode sair nem nele pode entrar."
Adriaen Verdonck
Ilustração: Toni Lucena Arte@Metro

O navegador Américo Vespúcio relatou em carta o chantamento do primeiro marco de posse da terra Brasil.

Estava comandando uma das três naus da esquadra de Gaspar de Lemos, em sua viagem de nominação, reconhecimento e posse daquelas terras asseguradas a Portugal pelo Tratado de Tordesilhas.

América veio a ser o nome de todo aquele imenso Continente, descoberto, anos antes, por Cristóvão Colombo.

Agosto de 1501, mês e ano do chantamento do primeiro padrão português no Brasil.

O dia, 7 ou 17 de agosto. Há controvérsias. Para Américo Vespúcio, 17 de agosto de 1501.

Local: atual Praia do Marco, pontal litorâneo nordeste do Rio Grande do Norte.

Ali, começava a história oficial do Brasil.

Hoje, o Marco de Touros encontra-se na Fortaleza dos Reis Magos e é considerado, como a própria Fortaleza, peça das mais importantes para a museologia brasileira.

Eduardo Alexandre

Centro de Documentação Cultural Eloy de Souza
Fundação José Augusto
Coordenador


Forte X Fortaleza

"Forte é uma pequena edificação sem guarda permanente. Fortaleza, ao contrário, é um grande edifício com um contingente de soldados permanente."
Hélio Galvão
Ilustração: Toni Lucena Arte@MetroFortaleza dos Reis Magos

Forte militar, um dos mais importantes do país, nascido com a cidade do Natal em 1598.

Foi ocupado pelos holandeses, quando tomou o nome de Kastell Keulen.

O chefe da Revolução no Rio Grande do Norte a favor da libertação do domínio monárquico, André de Albuquerque, morreu preso e vítima de ferimento grave em uma das celas da Fortaleza no ano de 1817.

Tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, é um dos principais pontos de visitação turística do Estado.


“O forte se erguia, a setecentos e cinqüenta metros da barra, em cima do arrecife, ilhado nas marés altas. É lugar melhor e mais lógico, anunciando e defendendo a cidade futura. A planta é do jesuíta Gaspar de Samperes, que fora mestre nas traças de engenharia, na Espanha e Flandres, antes de pertencer à Companhia de Jesus.

É a forma clássica do forte marítimo, afetando o modelo do polígono estrelado. O tenalhão abica para o norte, mirando a barra, com os dois salientes. No final, a gola termia dois por dois baluartes. O da destra, na curvatura, oculta o portão, entrada única, ainda defendida por um cofre de franqueamento, para quatro atiradores e, sobrepostos à cortina ou gola, os caminhos de ronda e uma banqueta de mosquetaria. Com sessenta e quatro metros de comprimento, perímetro de duzentos e quarenta, frente e gola de sessenta metros, o forte artilhava-se de maneira irrepreensível. Atiraria por canhoneiras e a mosqueteira pela gola em seteira no cofre ou de visada na banqueta. A artilharia principal atirava a barbeta.”

Luís da Câmara Cascudo
História da Cidade do Natal


OS INDÍGENAS DO RIO GRANDE DO NORTE
Walner Barros Spencer

TUPI

Pouco se sabe sobre a origem dos índios que dominavam este território quando da chegada dos europeus. Pode-se dizer que a faixa litorânea era ocupada por índios agricultores, do grupo lingüístico Tupi. Chegaram à região entre os anos 500 e 1000 de nossa era. Os índios encontrados pela frota de Cabral, na Bahia, eram dessa etnia.

Eram sedentários, bem organizados socialmente, bons canoeiros e antropófagos, isto é, comiam carne humana, de maneira ritualística. Orgulhosos, bons guerreiros, hábeis no arco e na flecha, bem como no uso da borduna, um tacape de madeira dura.

Expulsaram os índios tapuias para o interior. Seu principal plantio era o da mandioca, com a qual produziam farinha. Sua cerâmica tinha influências da cultura marajoara, da Amazônia.

Os índios potiguares, que eram Tupi, dominavam toda a costa litorânea do Estado e grande parte do litoral cearense. Possuíam grandes aldeias, como a de Igapó, a de Macaíba, e as que margeavam a Lagoa de Guaraíras, assim como aquelas da região de Georgino Avelino e do rio Curimataú.

O Tupi, no decorrer do tempo, irá misturar-se, biológica e culturalmente, com os colonos europeus, ou com os escravos negros, a depender da maior ou menor posição na estrutura social da época. Houve mistura racial a partir dos mais nobres dos portugueses, aqui radicados, até o menos conhecido dos soldados. É bom salientar que estudos recentes, baseados na comparação de componentes do DNA, demonstraram ser bastante expressiva a contribuição do sangue indígena na população branca do Brasil. No Nordeste, por exemplo, o percentual dessa miscigenação racial ultrapassaria 60 %. No sul, estaria acima de 45%.

Esses índios foram elementos importantes e eficientes nas tropas portuguesas, tendo tomado parte, praticamente, em todas as guerras, lutas e campanhas coloniais, tanto no Brasil quanto em outras colônias lusitanas na África. Guerreiros versáteis formaram as forças auxiliares que atuaram na conquista e na expansão européia de nossa região. Não se deve esquecer que as famosas tropas de sertanistas paulistas – desde as primeiras bandeiras – eram formadas de mamelucos (índio e branco) e de índios puros. A maior parte deles era Tupi, ou formada de seus descendentes.

TAPUIAS

O sertão abrigava uma enormidade de grupos de variados tamanhos, os quais falavam línguas diversas, e eram conhecidos pelo nome genérico de tapuias ou tapuios. Esse nome nada mais representa do que a maneira com que s Tupi denominava a todo e qualquer indígena que não falasse o idioma túpico. Os tapuias dividiam entre eles algumas características homogêneas adquiridas na luta pela sobrevivência em um meio-ambiente freqüentemente hostil ao homem.

As tribos tapuias eram temidas por todos os demais indígenas. Eram diferentes em suas maneiras de ser. Corredores incansáveis e velozes, somente os animais podiam competir com eles. Astutos e cheios de manhas, preparavam emboscadas e armadilhas para os outros. O vigor físico e a valentia desses guerreiros sempre foram características admiradas e respeitadas pelo restante dos indígenas. Eram silenciosos e cautelosos quando iam à guerra. Ao avistarem seus inimigos arremetiam contra eles numa rapidez sem igual. O barulho que faziam, então, era ouvido ao longe, por entre as ramagens da caatinga ou da mata litorânea.

Exímios flecheiros, suas flechas certeiras eram letais. Excelentes rastreadores seguiam os inimigos por lugares difíceis e ásperos. Conhecedores dos terrenos que palmilhavam, reconheciam todos os seus acidentes, o que lhes permitia aparecer de surpresa por sobre as tropas européias.

Era típico de algumas tribos – dos janduís, por exemplo – o uso de propulsores de arremesso. Construídos em madeira, esses instrumentos de lançamento de dardos, podiam multiplicar por dez a força de impacto, sem perda da precisão no atingir o alvo. Os dardos, geralmente, tinham pontas de pedra cortantes que atravessavam o corpo de um homem.

Um aspecto peculiar desses indígenas foi sua adaptação à maneira do europeu lutar. Ela incluía o perfeito conhecimento do manejo dos diversos tipos de armas de fogo. Esta característica será a grande responsável pela vigorosa resistência que eles irão impor aos portugueses durante mais de 25 anos nos sertões do Rio Grande do Norte e Ceará. Esta resistência – o Levante do Gentio Tapuia – era, anteriormente chamada, errônea e preconceituosamente, de Guerra dos Bárbaros (Séc. XVII-XVIII).

Muitos índios tiveram papel de destaque tanto na conquista da terra auxiliando os europeus, quanto na resistência à colonização do território. Nunca são lembrados, em que pese os indígenas terem sido sempre, em quase todas as circunstâncias, os responsáveis pelo sucesso da dominação européia da terra brasileira. Seja como o principal contingente guerreiro – em quantidade e em qualidade – quanto pelos ensinamentos de como sobreviver em um ambiente tropical, completamente diverso do ambiente da Europa.

Os documentos históricos estão repletos de nomes nativos, nomes que os livros de história teimam em não fazer conhecidos, mas cuja memória merece igual respeito ao menos do que qualquer prócere português.

Assim, nessas terras soaram milhares de vezes o som de chamada de um Itaobo, Pirangibe, Paraguassu, Zorobabé, Ibiratinim, Metaraobi, Ipanguaçu, Jaguarari, Canindé, Janduí, dentre centenas de outros.


TRATADO DE TORDESILHAS E PRIMEIRO MARCO HISTÓRICO
Walner Barros Spencer


A disputa entre Portugal e Espanha em relação à posse das terras descobertas e por descobrir, instaurada logo após a chegada de Cristóvão Colombo nas terras americanas (1492), e antes de Vasco da Gama ter chegado a Calicute, na índia (1498), resultoutas no Tratado de Tordesilhas (1494), pelo qual, por meio de um meridiano traçado a 370 léguas ao ocidente das ilhas de Cabo Verde, a Terra era dividida em duas zonas de influência desses dois países. O Tratado, obviamente, não comprometia a outros países, como a França, a Inglaterra.

D. Manuel I, o Venturoso, rei de Portugal, preparou uma poderosa e competente esquadra para garantir o domínio do comércio das especiarias nas Índias, e tomar posse do quinhão correspondente às terras do Novo Continente no qual chegara Cristóvão Colombo. O nobre português Pedro Álvares Cabral foi designado para o comando geral dessa expedição diplomática-militar que primeiramente chegou ao Brasil em 22 de abril de 1500.

Em 1501, Gaspar de Lemos, comandante da caravela que retornara a Portugal com a nova do achado da terra brasileira, retorna por ordem do Rei, para explorar a costa da nova terra e firmar-lhe a posse. É então que foi chantado o marco português em uma enseada de ondas fortes do litoral setentrional, hoje na divisa dos municípios de Pedra Grande e de São Miguel do Gostoso, no local atualmente chamado de Praia do Marco, no Rio Grande do Norte. Nesta expedição veio o florentino Américo Vespúcio.

BANDEIRA DA ORDEM DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO (1332 A 1651)

A Ordem de Cristo, como era mais comumente conhecida, era na realidade a haerdeira da Ordem dos Cavaleiros Templários, que fora extinta por graves acusações manipuladas pelo Rei Felipe, o Belo, de França, em 1311. Muitos reis aproveitaram-se da ocasião e confiscaram o enorme patrimônio da Ordem do Templo em seus domínios. Com a exceção de Espanha e Portugal. O rei português, D. Diniz, transferiu o fabuloso patrimônio dela para uma outra ordem que ele criou: a Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo, cuja função será a de combater os mouros e, mais tarde, financiar as navegações e descobrimentos na intenção de salvar as almas dos gentios.

O Grão-Mestrado da Ordem esteve quase sempre na família real, e após 1551, com D. João III, tornou-se privilégio hereditário perpétuo dos sucessores reais da Casa de Portugal.

A insígnia da Ordem é uma cruz vermelha, quase quadrada, fendida no meio com outra branca, diferente da cruz templária, que era toda vermelha. Este símbolo decorava o velame das caravelas de Cabral e dos outros navegantes portugueses, e ornava igualmente os estandartes dos bandeirantes e entradistas do século XVII.

BANDEIRA REAL (1500 A 1521)

Criada, em fins do século XV, pelo rei de Portugal D. João II, representava a união do Estado Monárquico português e da Igreja Católica Apostólica Romana. Foi adotada como pavilhão oficial de Portugal pelo rei D. Manuel, o Venturoso (1495-1521).

O escudo sobreposto à cruz da ordem de Cristo que apresenta é símbolo maior das intenções da Igreja e de Portugal de catequizar outros povos. A Bandeira Real simbolizava todas as conquistas portuguesas e presidia todos os acontecimentos importantes havidos no Brasil até 1521, quando foi substituída pela Bandeira de D. João III.

O escudo de armas representa a união dos Reinos de Portugal e Algarves. Portugal está representado por cinco escudetes azuis, postos em cruz, cada um com cinco bezantes de prata postos em Santor.

A bordadura vermelha com castelos dourados representa o Algarves.

Os sete castelos dourados sobre fundo vermelho aludem ao sangue português derramado na guerra contra os mouros, e as praças fortes conquistadas.

AMÉRICO VESPÚCIO

Era um mercador, navegante e explorador, tendo nascido em Florença, em 1454, e falecido em Sevilha, em 1512.

Foi na viagem de exploração ao Brasil, comandada por Gaspar de Lemos, que ele, tendo percorrido a costa até a embocadura do Rio da Prata, concluiu que a terra encontrada era um novo continente. Em sua homenagem o Novo Mundo recebeu o nome de América.

Estando ao serviço de Portugal, narrou a viagem em sua famosa carta – Lettera dirigida a Pietro Soderini, narrando fatos acontecidos, fazendo observações e batizando os principais acidentes geográficos encontrados.


BANDEIRA DE D. JOÃO III (1521-1616)

D. João III recebeu o trono português num período desfavorável a Portugal. Intensificaram-se os ataques de piratas franceses no Atlântico. Os ingleses infestavam os portos portugueses, e domínios lusitanos na áfrica eram perdidos. A Cruz da Ordem de Cristo é retirada da Bandeira, restando somente o escudo de armas dos reinos de Portugal e Algarves, encimados por uma coroa aberta real.

É nesse mesmo período que foi desenvolvido um amplo trabalho colonizador no Brasil, com a expedição de Martim Afonso de Souza (1530); a implantação das Capitanias hereditárias (1534); a instituição do Governo-Geral (1549); e a divisão do Brasil em dois governos: Bahia e Rio de Janeiro (1572).


CAPITANIAS HEREDITÁRIAS

Quando se dá o conhecimento da terra do Brasil, Portugal tem pouca experiência de colonização. Interessa-lhe o comércio, a troca de mercadorias, a aquisição de mercadorias de alto lucro. Assim, somente criam feitorias – postos comerciais defendidos militarmente. As ilhas de Porto Santo e Madeira servirão de experiência de administração de terras e gentes para eles. É onde será implantado o sistema de capitanias hereditárias, doadas a gente capaz de povoá-las e fazê-las render. O sistema terá sucesso.

No Brasil, no início, foram criadas algumas feitorias, inclusive uma em Pernambuco, mas o comércio dos produtos naturais brasileiros era irrisório quando comparado com as especiarias.

Na medida em que Portugal perde seu monopólio das drogas e especiarias, é quando os franceses iniciavam a vir buscar pau-de-tinta nas costas brasileiras, e se faziam amigos dos nativos locais, além de infestarem as águas em ações corsárias, atacando as feitorias existentes. Não havia opção: ou a Coroa colonizava a terra, ou iria perdê-la. Apela então para a bem sucedida experiência das ilhas atlânticas ocidentais: as Capitanias Hereditárias.

Grandes lotes de terra eram doados a nobres comprovadamente eficazes, com importantes isenções, e direito de justiça, inclusive, mas com a obrigação de povoar e defender a capitania recebida.

A Capitania do Rio Grande, a mais extensa de todas, foi doada por Dom João II, Rei de Portugal, em 1535, a João de Barros, importante e capaz servidor Real, que tentará inutilmente colonizá-la. Por duas vezes enviou sozinho ou em aliança com outros, frotas para tal intento. Todas terminaram em desastres e insucessos.

Um dos aspectos que impediu a colonização foi a presença dos Potiguara, indígenas bem organizados socialmente, orgulhosos, senhores de si, extremamente agressivos e excelentes flecheiros e canoeiros. Estima-se que chegavam a 30-40 mil valentes guerreiros.

Após a morte de João de Barros, a Capitania reverteu para a Coroa, que pagou tença ao herdeiro legal. Ela continuou a ser paradeiro de franceses, que estacionavam geralmente no Rio Grande, o Potengy dos potiguares.

JOÃO DE BARROS

Nasceu provavelmente em Viseu, em 1496, e faleceu em São Lourenço, em 1570.

É considerado o Lívio português e o primeiro grande historiador colonial, um pioneiro do Orientalismo e um dos principais humanistas de Portugal.

Escreveu diversos trabalhos pedagógicos, sobre moral e gramática, o que fez dele um renomado inovador educacional.

Obras famosas suas foram Crônica do Imperador Clarimundo, em 1520, e a sua obra-prima, Décadas, em que escreve a história épica dos portugueses na Ásia, que foi publicado em 1552.

Era um intelectual de valor e com profundo interesse por outras culturas e saberes. Mandou procurar manuscritos orientais de diversas fontes e os fez traduzir por especialistas. Infelizmente, muitas de suas obras em geografia, comércio e navegação desapareceram após sua morte.

Serviu aos reis de Portugal, D. Manuel I, e D. João III. Foi um brilhante e eficiente servidor público. Foi tesoureiro e logo após, feitor da Casa da Índia e Mina, o equivalente ao posterior cargo de agente real para as colônia.

EXPEDIÇÃO DE CONQUISTA DE MANUEL MASCARENHAS HOMEM

Na intenção de expulsar definitivamente os franceses do litoral e ancoradouros do Rio Grande, a Coroa portuguesa, então unida à Espanha, mandou, por Carta Real, que o Governador-geral, D. Francisco de Souza, organizasse uma expedição que viesse à Capitania abandonada, expulsasse os estrangeiros, erigisse um forte e fundasse uma cidade, para garantir a expansão territorial luso-ibérica.

Em 25 de dezembro de 1597 chegou na foz do rio Grande (Potengy) a expedição de conquista dirigida pelo Capitão-mor de Pernambuco, Manuel Mascarenhas Homem.

Logo depois chegavam as tropas comandadas por Feliciano Coelho, Capitão-mor da Paraíba.

No total, por mar e terra as forças eram formadas de três companhias de soldados de infantaria, um de cavalaria e 900 índios flecheiros.

Dentro em pouco, estão em renhido combate com os franceses e potiguares e fortificam-se em um fortim temporário feito de galhos, ramos e barro.

Dentre os comandantes de infantaria estava Jerônimo de Albuquerque, mameluco, de família importante, que teria grande importância na futura história da Capitania.

Além dos militares e guerreiros indígenas, vieram também os franciscanos padres Bernardino das Neves e João de São Miguel, e os padres jesuítas Francisco de lemos e Gaspar de Samperes, para catequizar aos nativos. Samperes era engenheiro e será ele o responsável pela traça arquitetônica da primeira fortificação.

O FORTE DOS REIS MAGOS

Logo de início, pressionado pelos constantes ataques dos nativos e dos franceses, foi construída uma fortificação provisória – simples paliçada na praia, fora do alcance das marés - para garantir um mínimo de segurança para abrigar a gente da expedição.

O início das obras deu-se no dia 06 de janeiro de 1598, e foi concluída em 24 de junho do mesmo ano. O dia inicial das obras é o dos Santos Reis, de onde o nome de Forte dos Santos Reis, ou dos Reis Magos. Nessa obra Nela trabalharam cerca de 800 homens, a maior parte formada de indígenas inimigos dos potiguares

A planta do Forte elaborada pelo padre Samperes apresenta a forma clássica de um polígono estrelado.

O comando da fortaleza foi entregue a Jerônimo de Albuquerque, que continuou a ter duros combates com os indígenas. Até o corriqueiro fato de pegar água e lenha onvencidos pelos padres jesuítas, os indígenas da região – que chegavam a 30.000 guerreiros – sob a chefia de seus morubixabas, contratam um Tratado Perpétuo de Paz e Aliança com os portugueses, na cidade de Filipéia de Nossa Senhora das Neves – atual João Pessoa - com proclamas nas outras Capitanias e cerimônia oficial, com todos os tradicionais ademanes diplomáticos. Era o dia 11 de junho de 1599.

Esta edificação militar proporcionou e garantiu não só a conquista da Capitania, mas foi, principalmente, a base para a expansão e consolidação da conquista territorial portuguesa do norte do Brasil. Jerônimo de Albuquerque parte deste Forte para a expulsão dos franceses e a conseqüente conquista do Maranhão, recebendo o auxílio das forças indígenas comandados por Camarão e Jaguarari; Martim Soares Moreno parte dele para fundar o Ceará, auxiliado por Jacumã e seus guerreiros, e Francisco Caldeira Castelo Branco, para fundar a cidade de Belém, no ímpeto para alcançar a Amazônia.

A edificação inicial era muito frágil perante o embate do mar. Em 1614, são iniciadas as obras complementares da nova e sólida construção de pedra e cal da fortificação, sob a direção do Engenheiro-mor do Brasil, Francisco Frias de Mesquita. Data de então o formato que possui atualmente. Estará completamente pronto em 1628.

Em meados do século XVII, o Forte, pela sua localização e solidez, era considerado uma das melhores fortificações do Brasil.

Mesmo tendo sofrido reconstruções e reformas, sempre manteve as características básicas da planta original.

Foi ampliado e reformado de1863 a 1874, e rearmado. Em 1881 seus canhões foram cobertos por não operacionais. Em 1949 foi tombado pelo órgão então responsável pelo patrimônio histórico nacional e incorporado ao patrimônio cultural da Fundação José Augusto por decreto do Governo do Estado.

CAPELA DOS SANTOS REIS

A Capela nasce junto com o Forte, em 1598, e nela é rezada a primeira missa, no dia 24 de junho.

Em 1753 chegam as imagens escultórias dos padroeiros, doadas por D. José I, rei de Portugal.

Em 1756 a capela sofre reformas de recuperação.

Em 1901 as imagens dos Santos Reis são transladadas para a Igreja Nosso Senhor do Bom Jesus das Dores, no bairro da Ribeira.

As imagens são conduzidas e transferidas em procissão para a Capela dos Santos Reis, no Morro da Limpa, ao lado do mar e bem próximo da boca do Potengi, nas vizinhanças imediatas da Fortaleza. O lugar não era de fácil acesso por causa das dunas.

Em 1936, a necessidade da construção das instalações de uma estação de rádio-farol redundou na transferência das imagens santas para uma nova Capela, construída na Praia da Montagem, no bairro das Rocas, onde continuam até hoje.

Em 1961 foi inaugurada uma nova Capela, fronteira à outra, que foi transformada em sacristia.

FUNDAÇÃO DA CIDADE DE NATAL

Foi a contratação da paz com os indígenas Potiguara que finalmente permitiu que se efetuasse a fundação da cidade de Natal, num alto à margem esquerda do rio Grande, onde provavelmente se arranchara a tropa de Feliciano Coelho, pois tinha água doce.

O nome da cidade deriva do fato dos atos de fundação terem tido lugar em 25 de dezembro. O ano era o de 1599.

Nascida cidade, terá um lento desenvolvimento, no entanto, pela dificuldade de trânsito com o interior.


JERÔNIMO DE ALBUQUERQUE

Era mameluco, filho de Jerônimo de Albuquerque e de Ubira-Ubi, filha do morubixaba Arco Verde.

Foi figura de destaque na história do Brasil, de modo geral, e da Capitania do Rio Grande, de modo particular.

Estava na frota que chegou em 1597 para a conquista do Rio Grande, e na construção do Forte, do qual foi o primeiro comandante, tendo sido nomeado por Mascarenhas Homem. Mais tarde foi escolhido para ser o primeiro Capitão-mor da Capitania.

No comando deste Forte trabalhou com os missionários para a realização das pazes com os indígenas potiguares.

Dele se dizia em relatórios oficiais da Coroa: “Sem índios não se pode fazer guerras e sem Jerônimo de Albuquerque não temos índios”.

Em 1612, parte deste Forte para a expulsão dos franceses e a conseqüente conquista do Maranhão. Pela vitória alcançada lhe será permitido usar do sobrenome Maranhão, que será uma importante família na história do Rio Grande do Norte. Foi auxiliado pelos forças indígenas comandados por Camarão e Jaguarari.

Em razão de seus feitos recebeu o título de Cavalheiro Fidalgo da Casa Real.

A família Albuquerque Maranhão ainda prestará honrosos serviços na história do Rio Grande do Norte.

Faleceu no Engenho Cunhaú, em 1618, e foi sepultado na Capela do estabelecimento.

MANUEL MASCARENHAS HOMEM

Filho de Vasco Fernandes Homem, fidalgo agraciado com a comenda da Ordem de São Bento de Avis.

Participou de lutas na África e nas Índias.

Veio para o Brasil para prestar um serviço e acabou nomeado Capitão-mor da Capitania de Pernambuco, a qual governou de 1596 a 1603.

Desempenhou várias missões importantes, inclusive a expulsão dos franceses do litoral nordestino, a conquista da Capitania do Rio Grande e a construção do Forte.

Voltou a Portugal, onde exerceu diversas funções públicas de grandes destaques.

Recebeu o título de Conselheiro Real e a condecoração de comendador da Ordem de Cristo.

D. ANTÔNIO FELIPE CAMARÃO

Indígena da nação potiguar, de etnia Tupi, nasceu nos idos de 1580, na aldeia de Igapó, do outro lado do rio Potengy. Falece em 1648, em sua fazenda, logo após a primeira Batalha do Guararapes e durante o cerco à cidade do Recife..

Seu pai – Potiguassu – foi figura de destaque na gênese da Capitania. É um dos heróis estaduais.

Em 1612, realizou-se na Aldeia Velha, em Igapó, seu batizado e seu casamento com Clara Camarão, uma indígena potiguar.

Por seu carisma e habilidade conseguiu integrar socialmente aos indígenas e europeus. Era um renomado chefe de tropa, excelente tático e valente nos combates.

Sua bravura, lealdade e nativismo renderam-lhe a patente de Governador e Capitão-mor dos Índios, e a comenda de Cavaleiro da Ordem de Cristo, concedida pelo Rei de Espanha e Portugal, instituindo-lhe um brazão de armas. Tornou-se, portanto, um nobre.

O DOMÍNIO HOLANDÊS (1633-1654)

Desde a tomada de Olinda, em 1630, pela Companhia Privilegiada das Índias Ocidentaios holandeses tencionavam ocupar a Fortaleza dos Reis Magos, mas sua aproximação era sempre repelida pelos canhonaços precisos e intimidadores.

Em 8 de dezembro de 1633, 2.000 soldados holandeses, duma esquadra de 16 navios, sob o comando do Almirante Jan Lichthardt e do Tenente-coronel Balthazar Bijma, auxiliados pelo conhecimento de Domingos Calabar, cruzaram a barra do Potengi. A parte de infantaria, cerca de 800 soldados haviam desembarcado, anteriormente, na baía de Ponta Negra. O Forte, cercado por terra e por mar, foi bombardeado, durante quatro dias.

Pero Mendes de Gouveia, seu comandante, resistiu durante algum tempo, mas terminou por render-se. Pra alguns historiadores, a capitulação foi feita à sua revelia, pois ele estava ferido. Horas mais tarde chegaram os reforços portugueses, que tiveram de se retirar.

O Forte permaneceu mais de vinte anos sob o comando holandês. Seu nome foi substituído para Castelo Keulen, em homenagem a um dos diretores da Companhia que assistiu à capitulação.

Em 1654, ao fim da guerra, com a capitulação holandesa na Campina do Taborda, os ocupantes do Forte o abandonaram e foram-se embora em suas embarcações.

BANDEIRA DO BRASIL HOLANDÊS – 1645

O Mercantilismo, doutrina econômica típica da Europa do século XVI e XVII foi adotada pelos Países-Baixos.

Foto: Ianê HeusiA Holanda era a maior potência marítima de então, possuía um dinâmico sistema comercial e desenvolvida indústria têxtil representados por uma robusta e empreendedora classe burguesa. Transportavam e comercializavam o açúcar produzido no Brasil.

A União das Coroas Ibéricas, em 1580, quebrou tal relacionamento, pois Espanha e Holanda eram inimigas e estavam em guerra.

A retomada do controle sobre esse comércio mundial foi uma das principais razões da invasão do Nordeste pela Companhia Privilegiada das Índias Ocidentais – GEOCTROYERD WESTINDISCHE COMPANIE – companhia privada com participação acionária do Estado Holandês.

A bandeira do Brasil holandês tem as cores do pavilhão holandês, em três faixas: vermelho, prata (branco) e azul, acrescidas de dois símbolos: a coroa do Conde João Maurício de Nassau e o monograma da Companhia das Índias Ocidentais, combinados com as três letras ligadas ao nome de Johannes Maucicius de Nassau.

Maurício de Nassau instituiu o brazão de armas do Rio Grande do Norte holandês, tendo por armas um rio, com uma ema em suas margens.

Para Barleus, historiador do Príncipe de Orange, porque tais animais existiam ali em abundância; Para Câmara Cascudo, como homenagem a Jandui, ou Nhandui-i – ema pequena em tupi -, principal de um importante grupo de indígenas tapuias aliados dos holandeses.

CONDE JOÃO MAURÍCIO DE NASSAU

Nasceu em1604, na localidade de Dillenburg, Alemanha, e faleceu em 1679, na Alemanha.

Excelente administrador, progressista, e brilhante militar. Participou de várias campanhas contra os espanhóis, pois os Paises-Baixos estavam em guerra com a Espanha.

Em 1636, foi convidado pela Companhia das Índias Ocidentais para ser o Governador-geral e Comandante-em-Chefe das conquistas e das forças armadas no Brasil.

Ao chegar ao Brasil, vinha acompanhado de artistas, pintores, sábios, cientistas de diversas áreas e artesãos e técnicos de várias especialidades. Graças a esta iniciativa pode-se hoje resgatar expressiva parte da história do Brasil, seja pela literatura narrativa e documental, quanto pela pintura e desenhos, bem como através de relatórios e coleções científicas.

Nassau concedeu brasões de armas distintivos às regiões conquistadas para diferenciar a jurisdição das capitanias sob o domínio holandês.

Em 1644 retornou à Europa devido a divergências com os administradores da Companhia. Sua saída acarretou o início da decadência da Companhia no Brasil.

REVOLUÇÃO REPUBLICANA DE 1817 EM NATAL

A Capitania do Rio Grande do Norte aderiu ao movimento de proclamação da República – de inspiração maçônica - iniciado em Pernambuco, em 1817.

O chefe do movimento no Rio Grande do Norte foi André de Albuquerque Maranhão, tendo ao seu lado Frei Miguelinho.

Malferido e preso, André foi encarcerado no “quarto escuro” da Fortaleza, e faleceu um dia depois, em 26 de abril de 1817. Foi sepultado sem cerimônia na Matriz de Natal. Frei Miguelinho foi fuzilado em Salvador, no mesmo ano.

Para Câmara Cascudo, a revolução de 1817 foi a mais linda, inesquecível e inútil das revoluções brasileiras.


ANDRÉ DE ALBUQUERQUE MARANHÃO

Nasceu no Rio Grande do Norte por volta de 1790, morreu em Natal, em 1817.

De família tradicional, nobre e rica, cujo tronco foi Jerônimo de Albuquerque Maranhão. Era grande proprietário rural, senhor do Engenho Cunhaú e Coronel da Milícia.

Morto esfaqueado na contra-revolta foi sepultado – sem cerimônias religiosas - na Matriz de Natal, a Igreja de Nossa Senhora da Apresentação.

FREI MIGUELINHO

Nascido em 17 de setembro de 1768, Miguel de Almeida Castro foi carmelita, dotado de grande cultura, com estudos de aperfeiçoamento em Lisboa.

Entusiasta das idéias liberais da época era filiado a sociedades secretas, como a Maçonaria, que conspiravam em toda a América pela independência das colônias.

Foi Secretário da Revolução Republicana. Preso e enviado para a Bahia, portou-se com serenidade e bravura, defendendo e buscando inocentar a todos os outros. Antes de ser preso, destruiu documentos que incriminariam centenas de pessoas.

Foi fuzilado no Campo da Pólvora, em Salvador, em 12 de junho de 1817.

CURIOSIDADES SOBRE O FORTE

Serviu de apoio à conquista do Ceará, Pará, Maranhão e o restante do Norte do Brasil.

Possui um sistema de captação de águas pluviais que era armazenada em uma grande cisterna.

No centro da Praça de Armas, sob a abóbada que sustenta a Casa da Pólvora, existe um poço que, nas marés altas, oferece água doce, e cuja construção é, conforme alguns pesquisadores, responsabilidade dos holandeses.

A Casa da Pólvora era elevada para que a pólvora negra, usada nos primeiros séculos, não absorvesse humidade.

A Capela primitiva era a um canto da construção e possuía um alpendre. Alguns poucos vestígios deste alpendre foram encontrados na campanha arqueológica de 1994.

As escadas da Casa da Pólvora e da Cisterna são do século XVIII quando de uma das reformas da Fortaleza.

Por detrás da Casa da Pólvora foi encontrada, durante escavações arqueológicas, em 1994, parte da estrutura de um fogão, feito de pedras amontoadas e que é da época da construção do Forte. Junto havia vestígios de escória de chumbo derretido para fazer pelouro.

No pavimento superior existia um cais estratégico por onde era possível abastecer o Forte por barcos. Os volumes eram erguidos através de uma grua manual. Coincide com a abertura que chamam de ‘porta falsa’ que permitia as pessoas embarcarem em condições de cerco, pois o Forte fica isolado durante as marés cheias.

A fortificação foi residência de muitos Capitães-mores.

Vultos importantes marcaram presença no Forte, dentre eles o Conde Maurício de Nassau, Franz Post, Barleus, Eckout, Felipe Camarão, Calabar, Jaguarari, Potiguassu, Jacob Rabi, Janduí, Antônio Paraupaba, Jacumã, Pero Coelho, Padre Luiz Figueira, Padre Francisco Pinto.

Serviu de prisão a heróis e mártires, bem como viu finarem-se outros. Dela saíram tropas holandesas para massacrarem moradores portugueses no Engenho Ferreiro Torto e Uruaçu, na região de Macaíba. Pessoas sensitivas dizem já ter visto imagens fantasmagóricas circulando pelo local.

Conforme alguns pesquisadores, existiu um ‘quarto escuro’ no subsolo da Praça de Armas, construído pelos holandeses, mas que não foi encontrado na metade da Praça que foi escavada.

A parte posterior do calçamento do pátio central é, muito provavelmente, de meados do século XVIII, e adota o estilo de calçamento dito açoriano: um quadrado reforçado de pedras largas preenchido com pedras menores não encaixantes.

Segundo Raul de Valença, a construção do Forte se deu quando “as necessidades de ordem militar e econômica forçaram os portugueses a expulsar os franceses do território potiguar, a fim de tornarem mais efetivo o seu domínio sobre a terra conquistada, surge o Rio Grande como fator geográfico de acentuada importância. Por constituir uma magnífica via de penetração, que permitiria aos lusos estenderem o seu domínio terra adentro, transformou-se o Rio Grande em ponto de apoio para a fixação dos colonizadores no solo potiguar”.

INFORMAÇÕES VÁRIAS

1501 – A esquadra portuguesa de Gaspar de Lemos e Américo Vespúcio descobre o Cabo de São Roque, nas costa do Rio Grande do Norte.
1600 – João Rodrigues Colaço recebe a primeira sesmaria no Rio Grande do Norte.
1604 – Jerônimo de Albuquerque concede aos seus filhos, Antônio e Matias, as terras do Cunhaú.
1631 – O Forte dos Reis Magos repele a tentativa frustrada de assalto à Capitania do Rio Grande, por Steyn Callenfels, que comandava 14 navios e 19 companhias de guerra.
1645 – Moradores portugueses presos na Fortaleza são levados para a localidade de Uruaçu, algumas léguas rio acima, e são massacrados sem defesa.
1648 – Jacob Rabi é assassinado em Natal, do outro lado do rio.
1790 – foi iniciada a Botica do Forte, com os medicamentos correspondentes.
1817 – a Capitania do Rio Grande do Norte fica independente de Pernambuco.
1831 – o Major José Carlos Teixeira Junior é empossado como o último Comandante das Armas da Província.


Livro de Veríssimo de Melo confirma que Forte não foi obra de padre
Luiz Gonzaga Cortez

A presidente da Fundação José Augusto, a assistente social e ex-professora da ESAM, Isaura Amélia Rosado, em entrevista concedida à jornalista Hayssa Pacheco, do Diário de Natal, anunciou hoje a instalação de uma “exposição histórica sobre a Fortaleza dos Reis Magos, quer vai contar a história do Forte”. Muito boa a iniciativa, mas será melhor, ainda, se a FJA procurar enfocar os autores e documentos que divergem da versão oficial sobre a autoria do projeto de sua construção, atribuído ao padre Gaspar de Sam Peres (ou Gaspar de Samperes?), um sacerdote jesuíta responsável por uma tosca, grosseira e inútil obra na boca da barra do rio Potengi. O que o referido padre fez mesmo foi obrar, pois o que “projetou” não agüentava nem um tiro de espingarda de soca. A Fortaleza dos Reis Magos foi desenhada e construída pelo Francisco de Frias da Mesquita, engenheiro-mor do Brasil, que acompanhou e fiscalizou, pessoalmente, todas as etapas dos serviços. Eu não sou o primeiro a escrever sobre Frias, não. Hoje, 16 de dezembro de 2006, tenho em mãos um exemplar do “Calendário Cultural e Histórico do Rio Grande do Norte”, de Veríssimo de Melo, editado pelo Conselho Estadual de Cultura-RN (Natal, 1976), que, na página 29, registra o seguinte: “6.1.1598 – Inicio da construção da atual Fortaleza dos Reis Magos, obra do engenheiro-mor Francisco Frias de Mesquita, sendo concluída entre 1614 e 1619”. Eis aí um “gancho” para os jornalistas e pesquisadores sobre as fontes que Veríssimo de Melo utilizou para escrever o seu calendário cultural e histórico.

Mas os folcloristas e historiadores do Rio Grande do Norte continuam escrevendo que foi o padre Gaspar quem construiu o forte.

Até hoje não encontrei os motivos para se omitir fontes bibliográficas brasileiras e portuguesas sobre o Forte dos Reis Magos, em Natal, considerado um dos principais pontos turísticos da capital.

Aqui, nos últimos anos, foram publicados vários livros e estudos sobre esse monumento histórico, inclusive “atlas” , mas continuam repetindo as velhas lorotas, de que a atual fortaleza foi projetada pelo padre Gaspar de Samperes.

Mas se acham que foi o Padre Samperes que construiu a fortaleza dos Reis Magos é porque não querem buscar fontes fidedignas e sérias que existem há muitos anos. Vou citar duas fontes, uma escrita e outra da Internet .A primeira é o Volume 9, de 1945, páginas 9 a 84, da Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, edição do antigo Ministério da Educação e Saúde, que publica ensaio sobre “Francisco de Frias da Mesquita, engenheiro-mor do Brasil”, de autoria de D. Clemente Maria da Silva-Nigra. O. S. B. Se o leitor acessar o sítio www.funceb.org.br vai encontrar mais informações a respeito ou ir direto a www.funceb.org.br/revista9/06_Frias-da-Mesquita.pdf. Lá, vocês vão saber que o padre Gaspar de Samperes fez o 1º projeto da Fortaleza dos Reis Magos, mas a atual edificação foi desenhada e executada diretamente por Frias da Mesquita. Na página 23 do ensaio de D. Clemente, quando se refere à fortaleza de Cabedelo, Paraíba, outro projeto de Frias, o autor escreveu o seguinte: “Semelhante à Reis Magos, a fortaleza fora construída com material precário; fabricada de huas (duas) taipas fraquíssimas em area solta, sem modo ou regra algua de fortificação pelo q não podia resistir a qualquer encontro de inimigos”. Em resumo, era uma construção feita de duas paredes de taipa, nas dunas (areia solta), que não tinha nada de fortificação militar. Compare a descrição de “duas taipas” para a magestosa fortificação de hoje, com corpo da guarda, prisões civis, calabouço militar, almoxarifado, depósitos, quartéis, cisternas, subidas para as baterias, prisões subterrâneas, casa do comandante, cozinha, estado-maior, capela e farol. O padre Samperes deixou uma tapera que não agüentaria um tiro de espingarda de soca. Frias da Mesquita deixou uma construção feita com cal, pedra e azeite mais forte, que substituiu o casebre de pau, barro e palha.

O PhD em arquitetura Augusto C. da Silva Telles, graduado em 1948, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro é o autor do texto do texto sobre os fortes das costas brasileiras projetados, desenhados, justificados (manuscritamente) e executados pelo engenheiro Francisco de Frias da Mesquita. Dr. Telles assegura que o governador D. Diogo de Menezes contratou o arquiteto português para construir o forte Natal, pois “o primeiro projeto foi projetado pelo padre jesuíta Gaspar Samperes, segundo Frei Vicente do Salvador, mas anos depois deteriorou-se”, antes de 1614, e que a edificação de Frias “ainda se conserva no local, próximo da cidade de Natal”. Augusto Telles, na extensa bibliografia, cita Gaspar Barléus, Vitterbo Souza, Silva Nigra, Diogo de Campos Moreno, Francisco Adolfo Varnhagen, Frei Vicente do Salvador e Pedro Calmom, entre outros. Frias da Mesquita construiu os fortes da Laje (Recife), do Mar (Salvador), São Diogo (Salvador), São Mateus (Cabo Frio-RJ), São Felipe, São Francisco e São José(São Luís do Maranhão), Santa Catarina (Cabedelo-PB), além de igrejas e mosteiros no Brasil.

Não acredito que o arquiteto Augusto C. da Silva Telles esteja equivocado.Creio que os folcloristas potiguares estão incorretos sobre a autoria do projeto e que a FJA poderia se aprofundar nas pesquisas pertinentes, examinando as anotações de Francisco de Frias da Mesquita, publicadas no volume 9 da revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, de 1945. Eu tenho um exemplar da revista, apesar de parcialmente danificado, mas são boas as reproduções das anotações de Frias sobre a Fortaleza dos Reis Magos. Você duvida? Ou você quer continuar com a mania estalinista de adulterar e distorcer os fatos históricos?

*Jornalista e pesquisador

Forte dos Reis Magos

Ilustração: Toni Lucena Arte@Metro